quarta-feira, 2 de setembro de 2015

"Pra quê?!"

Já fazia tempo que eu não me aguentava. Não suportava o cheiro de cigarro. Não aguentava a "baixastralização" que o cigarro me causava. Era instantâneo: fumar e me sentir mal, sem vontade, sem energia, sem pique pra qualquer coisa. Rolava uma sensação interna desagradável, quase uma dor. Fora isso, tinha um certo nojinho de mim: a minha mão, a minha roupa, o meu cabelo, tudo cheirava a fumaça. E isso porque eu já estava numa fase de fumar um ou dois cigarrinhos no fim do dia, apenas, graças à Lei Antifumo. 

Aí, rolou, paralelamente, um baita medo. O meu tio estava com câncer, sofrendo há anos e eu comecei a ficar com um cagaço absurdo. Talvez por isso o meu cabelo tenha começado a cair: pela paúra de achar que eu também poderia estar muito, muito doente.

Até que um dia eu fui ali fora fumar um cigarrinho e alguém me perguntou "você vai fumar?" e eu disse "vou" e a pessoa disse "pra quê?" e eu pensei, "ai, que saco, me deixa fumar em paz e cuida da sua própria vida", mas não respondi nada, apenas acendi um cigarro, dei o primeiro trago, senti aquela tonturinha já habitual e me perguntei: "pra quê!?". Então apaguei. 

Não voltei a fumar. Pela lei, pelo desespero, por nojo, por vergonha, por achar que o outro não era obrigado a feder, engolir a minha fumaça e ter um câncer por minha causa, mas principalmente, por essa perguntinha irritante que não consegui responder. Não tinha motivo algum pra eu fumar. Não tem motivo algum pra você fumar. Comecei a ter dos fumantes (e de mim) uma impressão de insegurança, de fraqueza. Eu não sou fraca, nem insegura, por que raios me apoiava naquele bastonete nicotizado cancerígeno?

Os nascidos nas décadas de 70 e 80 ainda têm a desculpa de terem sido impactados por campanhas publicitárias muito agressivas: estava na tv, no outdoor, na revista, no rádio, na padaria, nos shows. Era lindo fumar! Se traçássemos o perfil de um fumante segundo as propagandas da época, teríamos alguém parecido com um artista plástico extremamente livre e desapegado, porém apaixonado, que ganhava a vida jogando tintas coloridas em painéis gigantes enquanto se balançava de ponta-cabeça num trapézio instalado em seu loft em New York ao som do melhor do jazz, mas que nas horas vagas era um sucesso saltando de asa delta, ouvindo rock, tendo ainda uma pegada rústica e o costume de nos convidar para ir cavalgar cavalos selvagens num mundo muito distante, onde estava o sabor. Era muito interessante ser fumante e, mais ainda, namorar um fumante. Mas os novinhos não têm essa desculpa e ando vendo muito pirralho se achando com cigarrinho na mão. Só burrice explica e sei que vocês são minigênios e que suas mães acham que vocês foram crianças índigo ou cristal, sei lá. Enfim, apenas parem, que cês tão ridículos. Todo o meu amor aos amigos oldschool que permanecem fumantes. Respeito, entendo o vício, mas parem, que cês também tão ridículos. 

Faz um ano e meio que parei de fumar e queria muito dar um abraço no ser humano que me perguntou "pra quê?". Se estiver por aí, por favor, dê sinal de fumaç... ops, de vida. E muito obrigada!

 

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